terça-feira, setembro 28, 2004

(Sobre) Agostinho III


É nestas alturas que gostava de saber um pouco de filosofia, para perceber o significado excato destas palavras.
Por agora resta-me a impressão de um leigo.
Agostinho da Silva escreve com a luz. Nela ilumina as palavras. E tudo é tão belo e tão simples.
É daqueles autores que só pode fazer bem à alma, parece que a limpa. É só o que posso dizer. Não percebo.


segunda-feira, setembro 27, 2004

Agostinho II


"Há outra sereia mais feiticeira que Platão; sabes tu qual é? O pensamento de Platão; e esse manda-me seguir e seguir sempre, ir mais longe do que ele, se puder, explorar as paragens onde não conseguiu chegar porque uma parte do seu esforço se despendeu connosco. Que seja cada um de nós diante de Platão o que ele quis ser diante de Sócrates.

(...)

Ele atingirá plenamente o seu objectivo se criar discípulos que lhes sejam semelhantes num ponto apenas: no desejo de não quererem tornar ninguém semelhante a si próprios."

Agostinho da Silva,
Policlés
(in Parábola da Mulher de Loth)

Agostinho I


"O que interessa na vida não é prever os perigos das viagens; é tê-las feito."

Agostinho da Silva,
Policlés
(in Parábola da Mulher de Loth)

Salomónica


Ter a espada na mão.
Não, tanto também não. Reformulando: estar junto de quem tem a espada na mão. Influenciar. Dizer por onde, que a espada corta.
Não, também não: dizer por onde e é provável que a espada corte por aí.
Sentir este quase poder.
Sensação estranha...

Bad drems late at night


A seguir não ouves barulho nenhum. Tudo fica em silêncio, quase ouves o teu próprio sangue circular.
Sabes que o morto está morto porque o vês em silêncio e já deixou de estrebuchar. Agora é contigo.
Não dás um passo sem que olhes para trás, não consegues um gesto sem medo de tocar em alguma coisa.
Tudo o resto está em paz. O inferno começa para ti.

Doce Infância II


Depois de tamanha gentileza, só posso retribuir com gesto igual:

PARABÉNS! QUARTZO, FELDSPATO & MICA.

Pois é, fizémos um ano no mesmo dia. Há coincidências que só nos podem deixar ainda mais contentes. Uma dupla razão para celebrar.

quinta-feira, setembro 23, 2004

Trespassers will be sued


O stress, ou qualquer outra coisa em mim, começa a falar mais alto.
Não gosto disto. Não lhes dei nenhuma autoridade para isso, façam favor de sair.
Não percebo sequer como entraram. Afinal, sou eu quem manda aqui...

quarta-feira, setembro 22, 2004

Doce Infância




E foi assim que tudo começou.
Hoje as emissões d'A Outra Voz completam um ano de existência.
A todos nós os devidos parabéns!

segunda-feira, setembro 20, 2004

(Inocente!)


Só agora me lembrei de deixar aqui uma Nota: o post anterior nada tem que ver com este.
Que fique claro! ;)

O Desaparecimento das Pilas Gregas


Fiel à sua missão de solidariedade e ajuda ao próximo (salvo seja), A Outra Voz não pode deixar de dar aqui triste notícia de um desaparecimento:
Duas pilas gregas desapareceram da fachada do Teatro Nacional de São João, no Porto.
Retratos das mesmas antes do desaparecimento aqui - para ajudar quem possa não as conhecer!
Quem souber do paradeiro das próprias (das gregas, entenda-se!), é favor direccioná-las para o local apropriado.

(Links para dois posts geniais, retirados de um blog do norte, carago!).

sábado, setembro 18, 2004

Post Súbito


Sobretudo quando comparado, o risco era muito maior.
- Como é que eu posso sber se te amo, se nem mesmo eu sei o que isso é?
O problema das grandes perguntas eram as respostas inversas que arrastavam.
- Supõe tu que ela me pergunta isto. O que é que eu lhe vou dizer? De qualquer maneira, estou encurralado!
Era um diálogo improvável, mas nunca se sabia. Por enquanto ela tinha evitado essas incursões. Sob a atitude da mulher liberal&etc., nunca tinha tido a coragem de perguntar. Algumas vezes chegou perto, deixou no ar o mote - no qual ele nem pegou, como é óbvio. Mas e se a pergunta directa surgisse? Teria de lhe responder, explicar tudo desde a raiz.
- Eu até nem me importava de lhe explicar, desde que ela percebesse.
Esse era o grande problema, certamente. Fazer com que os outros entendam as coisas que para nós ficam por explicar.
Nos duelos nocturnos, a palavra acabava sempre por vacilar ante o corpo. O seu medo eram as afrontas a céu aberto.
- Se ela me pergunta isso à mesa do café não tenho saída!
Mas teve. Nessa manhã saiu directamente da vida dela.

quarta-feira, setembro 15, 2004

Uma letra que som tem?


"... quer fugir pela janela
como o ditongo
anguloso do bojo
redondo e côncavo
do banjo e do gongo
e do bombo do Jazz ..."

António Navarro

Assim soa, mesmo nas páginas de um livro.
Poezz, jazz em movimento nas letras.

(e de outros poemas indizíveis fora das páginas recomendadas)

domingo, setembro 12, 2004

Carta de Intenções


Parar o tempo.
Mastigar devagar os alimentos,
fazer bem as digestões.
Agora criei o tempo -
criarei também o seu conteúdo.

Procurar trabalhar no vazio,
no primeiro passo.
Transformá-lo, evitá-lo.
Para o encontrar, novamente
como resultado final
- nova roupagem.

Fazer dos dias
pontos de fuga inversos,
de reencontro.
Linguagem nova
de ritmos pausados,
ecocêntricos. Saborear
as palavras ditas, olhar
o tempo nosso ao espelho,
reconhecer.
Eu sou o criador do tempo.

Se mais tarde ele me fugir,
se eu fugir dele, em consciência
-ou não-
é-me indiferente.
(Não, isto é mentira.)

O medo está presente,
mas não me forma rugas na face
(isto também é mentira).
Vou criar o tempo necessário
pelo menos até perceber
se criarei o seu interior ou não.

sexta-feira, setembro 10, 2004

Confidencial




Hoje é dia de Olga Roriz.
Tudo o mais deixa de existir.

quinta-feira, setembro 09, 2004

Ins: ónia/anity


ter mil pontas soltas cá dentro e não as conseguir pegar
ter as ideias em turbilhão e nem assim
não conseguir transformar a fleuma em nada que se veja
[ter quase medo do que se vê de fora]
a pressão compacta que me esmaga contra mim mesma
ouve: isto é um sinal

Do silêncio


Prolongado crepúsculo
és agora do mundo
o resumo


"Entre a Sombra e o Corpo",
David Mourão-Ferreira

em poemas às voltas com o silêncio

(palavras para quê)

terça-feira, setembro 07, 2004

Parábola da parábola


"Duvidava às vezes de ter feito tudo o que devia fazer pela liberdade: sei que muito me deixei arrastar pelo que nos prende ao tempo, que o meu Amor não foi sempre bem amplo, aberto a todos, que a minha alma não foi sempre bem forte, inflexível ao vento do desânimo; ainda bem que hoje posso adquirir a certeza de que não foi inútil a minha passagem pelo mundo; não estarei ao lado deles, não me queimará o mesmo fogo, não me sepultarão as mesmas cinzas: mas o teu Senhor, como os tiranos, teme quem o olha de frente."

Agostinho da Silva,
"Parábola da Mulher de Loth"


Post com a data de ontem, coeva da leitura.
Palavras para quê? Estava lançado o grão de areia semanal na engrenagem.

quarta-feira, setembro 01, 2004

Relato "Deste Lado"


Promessas são promessas, e ainda que não tenha sido eu a fazê-las, aqui fica (parte d') o prometido.


Nessa noite chegámos a Catanzaro, na costa sul de Itália. É o mesmo que dizer que estávamos em cheio na sola da bota.
Mais um dos sítios surreais. Após peripécias várias, encontrámos onde dormir. E que sítio.
Estávamos praticamente a dormir na praia. Bastava estender a vista e lá estava o mar. Bastava pôr o pé no chão e tocávamos a areia. Dar dois passos e estar na praia.
A noite era passada a ver a lua quase cheia reflectida no mar jónico.
Isto quando ainda não se dormia.

"-Faz-me confusão pensar que logo aqui em baixo está África."

Quando se dormia...
Quando se dormia acordava-se subitamente a meio da noite. Um acordar sincronizado, simultâneo. Que estranho...
Quando após esse acordar o sono não vinha, percebia-se.

Acordava-se a meio da noite com os helicópteros a patrulhar a costa. Toda a noite, num frenesim constante.
Em busca de náufragos do mar alto, lutadores ou fugitivos de/para alguma outra coisa. Simplesmente em busca.

Dormir a pensar que a nossa simples presença ali era um luxo a que nem todos se podiam dar.
Dormir a pensar que o facto de ser "eu, cidadã tal" tinha já por si um tremendo valor associado.
Mais não fosse, porque podia ouvir os helicópteros e continuar a dormir, se quisesse.
Se conseguisse.




"Non chiudere gli occhi
Non servirà
Lontano dagli altri
(...)
Che tiri lo sciaquone
E non li vedi più
Razza superiore"


("Do not close your eyes
It won't help
Far from the others
(...)
As you flush the toilet
And you do not see them anymore
Higher race"

Banda Bassotti,
Ghetto 02
(tradução para inglês dos próprios)

Postal


Às vezes penso que seria útil descobrir
uma arte de censura velada.
Num código secreto por inventar
Utilizar palavras como espelhos
Para que só elas se pudessem entender
No seu sentido original.