terça-feira, setembro 30, 2003

- Vês? Eu podia escrever sobre isto, sobre esta rapariga que agora passa...
Detalhes, pequenos retratos.
Escrever.
Sobre a chuva, as primeiras gotas que caem agora.
A chuva. Que pousa em mim e com ela a calma.
Outono. Saudades do Verão e do tempo dos amigos.
Vejo os do Inverno, da presença serena.
Tenho saudades do Verão, dos dias que esticam amizades, como se na urgência do momento o tempo nos fosse passado e futuro.
Ao contrário de Rimbaud, “with us able to seize this eternity on the spot”. Até ao infinito…
E era só da chuva que eu queria escrever. Como da rapariga que ia ontem no comboio, como, talvez, de um pretexto apenas para as sensações.
Folhas do Verão que em mim caem.

segunda-feira, setembro 29, 2003

An Irish Air...

Um dos meus poetas favoritos, poema idem.
A imobilidade, a ausência, o estar sem sentir.
E no entanto, o solitário impulso do prazer que eleva o corpo às nuvens.
Sublime.
Para ler e ficar a pensar. O dia inteiro. Nas nuvens, também.
E o céu aqui tão perto...

An Irish Airman Foresees his Death


I know that I shall meet my fate
Somewhere among the clouds above;
Those that I fight I do not hate,
Those that I guard I do not love;
My country is Kiltartan Cross,
My countrymen Kiltartan's poor,
No likely end could bring them loss
Or leave them happier than before.
Nor law, nor duty bade me fight,
Nor public men, nor cheering crowds,
A lonely impulse of delight
Drove to this tumult in the clouds;
I balanced all, brought all to mind,
The years to come seemed waste of breath,
A waste of breath the years behind
In balance with this life, this death.

William B. Yeats

segunda-feira, setembro 22, 2003

A Primeira Vez

Como se fosse o primeiro dia.
Já quase tinha esquecido - o espaço fechado, a oclusão. Física, também.

Espaço de mãos abertas e deuses caídos, ou deuses erguidos na esperança de uma fuga. Que prometo. Juro e anseio, a volta pacífica ao mundo meu.

Moinho de mim na catarse diária, o corpo calçado, a alma fria em silêncio.

(Como se fosse a primeira vez.)