quinta-feira, janeiro 29, 2004


Sinto-me um caracol.
Uma enorme Babel invadiu a minha concha, sem pedir licença.

Diving in De Profundis


"To be entirely free, and at the same time entirely dominated by law, is the eternal paradox of human life that we realize at every moment: and this, I often think, is the only explanation possible of your nature, if indeed for the profound and terrible mystery of a human soul there is any explanation at all, except one that makes the mystery all the more marvelous still."

Oscar Wilde,
De Profundis

terça-feira, janeiro 27, 2004


(Às vezes acho que se quisesse enlouquecia.)

segunda-feira, janeiro 26, 2004

Fim de transmissão


É preciso que alguém tenha um ataque cardíaco em directo para que outros se apercebam de que afinal a morte existe.

domingo, janeiro 25, 2004

Bailado


Movimento do sangue
a ondear no espaço.
Nós, de ver, levitamos.

Primeira aproximação ao Haiku


Mancha vermelha em tecido branco
e um golpe de luz plo bisturi do dia:

A face e o seu sorriso aberto.

sábado, janeiro 24, 2004

O jogo


Desde pequenina estava habituada a jogar.
"Play dead", diziam-lhe e num instante se fingia morta. "Play dead" e ao dizerem isto apontavam-lhe uma arma que bem podia ser qualquer coisa: uma flor, um lápis ou mesmo o amor que tinham por ela.
Muitos anos depois lembrou-se e quis voltar ao jogo.
"Play dead", gritou, e como ninguém em volta respondesse pensou "Foi sem dúvida o jogo mais rápido a que joguei".
Não precisou de arma sequer, e o amor que tinha por eles continuou a jorrar-lhe das mãos.

quarta-feira, janeiro 21, 2004

Luz


Deixa a luz acesa hoje.
Vou olhar-me ao espelho e preciso de me ver por dentro.

Banda Sonora


parto rumo à maravilha
rumo à dor que houver pra vir
se eu encontrar uma ilha
paro pra sentir
e dar sentido à viagem
pra sentir que eu sou capaz
se o meu peito diz coragem
volto a partir em paz

Ornatos Violeta,
Capitão Romance
(in O Monstro Precisa de Amigos)

Banda Sonora


"But the winter came
and you faded in the rain..."


David Fonseca,
Summer will bring you over
(in Sing Me Something New)

terça-feira, janeiro 13, 2004

Eu, psicopata, me assumo - II


Olha logo com quem me fui meter.
Eu disse mata, há quem diga esfola!



"Mas o mais corajoso dos homens entre nós tem medo de si próprio. A mutilação do selvagem sobrevive tragicamente na autonegação que corrompe a vida. (...)
A única maneira de nos livrarmos de uma tentação é cedermos-lhe. Se lhe persistirmos, a nossa alma adoece com o anseio das coisas que se proibiu, com o desejo daquilo que as suas monstruosas leis tornaram monstruoso e ilegal. Já se disse que os grandes acontecimentos do mundo acontecem no cérebro. É também no cérebro, e apenas neste, que ocorrem os grandes pecados do mundo. Mesmo o senhor, Mr. Gray, com a sua juventude de rubro rosa e a sua mocidade de branco rosa, teve paixões que o amedrontaram, pensamentos que o aterrorizaram, sonhos diurnos e sonhos dormindo cuja simples memória talvez o faça corar de vergonha..."

Oscar Wilde,
O Retrato de Dorian Gray


(Acho que este livro tem tanto de belo como de perigoso. Vou continuar a ler com a noção clara do precipício. Prometo dar notícias em breve. Avisem se começar a apresentar estranhos sintomas...)

domingo, janeiro 11, 2004

Metrografista


Feliz aniversário André! ;)
Eheh, espero que não me leves a mal pela partida!!! ;o)

sábado, janeiro 10, 2004

Vizinhança


Morar no campo tem destas coisas. Sair de casa e tirar esta foto, por exemplo.

Amalgamation of green




Já não me lembro do sítio exacto onde a tirei, ou do que representa. Mas gosto.

Espanta espíritos


“Olha-me de frente o sete-estrelo e parte
Ao encontro de novas galáxias”

Eduardo Guerra Carneiro

Foi o que fiz.
Hoje fugi e espantei espíritos. Muitos deles permanecem, mas já estão domesticados.

Sexta-feira


Hoje não houve Coimbra.



Coimbra ficou aqui.

segunda-feira, janeiro 05, 2004

Eu, psicopata, me assumo


Nunca vos aconteceu pensar: "E se agora eu fizesse isto?", e o "isto" ser uma barbaridade, um absurdo completo?
Absurdo e tragédia. Falo de coisas incrivelmente cruéis e nefastas.
Quando visitei o Museu do Prado, fiquei abismada com os quadros. Mas, mais do que isso, porque pensava: "Eu posso destruir isto!!"
Já imaginaram?! Eu, com os quadros ali, sem vidro, à mão de semear...
Mas muitas outras vezes penso isso. E em exemplos que nem me atrevo a escrever aqui... Nunca vos aconteceu? Por exemplo, se estão parados no trânsito e passa alguém à vossa frente, já pensaram que se quiserem podem efectivamente matar aquela pessoa?
Às vezes pensar isso quase me dá vertigens. Arrepio-me com os meus próprios pensamentos.
Nunca pensei nisto como tendo vontade de o fazer. Às vezes tenho fúrias, que geralmente tento controlar, mas nunca são tão graves. O máximo que sai é um berro a alguém ou alguma coisa que não devia ser dita.
Mas matar?! Se eu quiser, tenho possibilidade de o fazer... ou de destruir um Picasso... enviar um mail obsceno para alguém a quem não devo enviar... contar um segredo terrível à última pessoa a quem podia contar... atirar alguém de uma escada... empurrá-la para a frente de um comboio... tão fácil!!!

É nestas alturas que penso que todos nós temos poder a mais.
Para ser homem é preciso realmente de uma grande capacidade de controlo...