quarta-feira, dezembro 14, 2011

Matera pura

...
Poesia sobre poesia pura
indeed.

Vieram à procura da escuridão da noite para fotografar as esculturas, porque de dia este espaço quase bíblico, confinado, tem uma luz descontrolada. E o quase bíblico, aqui, está longe de ser um exagero.

Se há lugar que pode causar perplexidade a um escultor, ele é Matera. É um exemplo de milénios de uma civilização rupestre, de uma cidade que se esculpe na rocha, das cavernas mais simples de há nove mil anos aos palácios do século XVIII. Uma arquitectura que, em vez de adicionar, subtrai. É o que se vê nas quatro igrejas rupestres do Convicinio de Santo António, a que acedemos através de um pátio, depois de atravessar um arco-portão. São do século XII e XIII e a arquitectura românica, arcaica, ainda está, aqui e ali, coberta de frescos. Estão lá esculpidas absides inteiras, abóbadas cruzadas, pilastras, colunas e janelas. Estar dentro deste espaço, nota Rui Chafes, "é como estar no núcleo de uma pedra". Quem o fez foi capaz de "um gesto incrível, de avançar pela montanha". "Como uma formiga, construindo uma geometria, irregular, mas uma geometria."

No exterior, fora das igrejas e da pedra, ouve-se apenas o rio Gravina, que corre lá em baixo no vale, e que separa a cidade do Parque da Murgia Materana. Nessa colina em frente, estão duas peças que terão de ser fotografadas amanhã de manhã, diz Chafes a Alcino Gonçalves. Estão exactamente em frente ao "telescópio" assente sobre um dos muro do pátio das igrejas, aponta o escultor. O falso telescópio é um tubo, também em ferro preto, que "não é uma escultura", mas serve para orientar o olhar. "Está aqui tudo confinado na pedra. Mais de que um ponto de vista é um ponto de fuga. Deixa um caminho aberto."


Para continuar a ler aqui.
...

Sem comentários: