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LARGO DO RATO
Num fato-macaco em tempos azul
apanhava o 15 para o Cais do Sodré.
Gestos e palavras de acordo no bater
do seu coração.
Dizia-se, num pequeno café da Alvares
Cabral, ser o seu coração artéria tão
confusa como o Largo do Rato.
Batia ao compasso da Escola Politécnica
arrítmico para os lados de S. Filipe
Néry.
Tinha outros dias tinha outras vozes
a chuva caía e a brisa, a mais ligeira,
corria D. João V entre flores e varandas
festas de inverno, velhos hábitos.
Fazia horas num banco das Amoreiras.
Passam estrelas e as coisas da vida
fazem o circuito S. Bento-Gomes Freire.
Sombria é a manhã sob os seus olhos
os que chegam neste eléctrico os que
partem sob as árvores.
Rua do Sol ao Rato. Rápidos passos.
É o trágico dos túmulos de S. Mamede
leva a máscara caindo de
um ombro,
a escura cabeça perdeu-a há muito
e o fato-macaco que fora azul,
marca de água.
João Miguel Fernandes Jorge, in O Regresso dos Remadores, editorial Presença, 1982
via Blog da Livraria Trama,
que, btw, está com uma imbatível feira de livros usados - e fica mesmo aqui ao lado do poema.
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terça-feira, março 08, 2011
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