O flirt durou um bom bocado.
Aproximei-me e mostrei a intenção de fotografar. Ele protestou imediatamente. Ainda em choque com a chegada a Dakar, guardei a máquina e afastei-me pela beira da praia.
Quando dei por isso, estava ele a tentar fotografar-me com o telemóvel.
- Hei, se eu não te posso fotografar a ti, não me podes fotografar a mim, nem pensar.
Ele parou e eu continuei por ali a observar a... "oficina".
Às tantas, perguntei a alguém que apareceu de novo:
- Posso fotografar?
Foi a risota geral.
- Ele diz que tu é que não te deixaste fotografar!
Estava criada a empatia, que era o mais necessário.
Fotografei-o e enquanto lhe mostrava a foto ele dizia-me:
- Eu sou da Guiné, não sou senegalês. Não te esqueças disso sempre que vires a foto.
Comecei a olhar em volta e a pensar de onde é que os outros viriam. Naquele pequeno cubículo, em monte, dava até a impressão de viverem ali. Alguns comiam, outros trabalhavam se trabalho houvesse, e tudo girava ali, em torno daquela amálgama.
Pus-me a imaginar o imenso êxodo, a constante rotação de pessoas por vastas zonas do planeta. África, por exemplo.
De como para nós Senegal, Guiné, são apenas um nome e na Europa não passam de mais nada além disso. O que são, o seu significado real, é coisa que não podemos imaginar e se alguém nos diz que é de lá que vem, é apenas essa palavra que muda.
Por alguma razão, aquilo para ele era importante. E eu não me esqueci. Aliás, como é que eu podia.
domingo, fevereiro 20, 2011
Guiné
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