domingo, dezembro 02, 2007

No meio está apenas o vazio


1.
Temos instituições democráticas, órgãos de poder nacionais, órgãos de fiscalização e poder local. Mas o que fica no meio?
Participar em eleições, através do voto, não é suficiente. Votamos de quatro em quatro anos, ou de cinco em cinco, votamos quase todos os anos. Mas o nosso voto nada controla e nada indica. Dá sinais, isso sim, a alguém, que os interpreta muitas vezes no sentido de "Agora é a minha vez". Individual ou colectivamente, o mandato está formado e muito pouco determina o seu norte durante esse tempo. Votar é um direito e um dever, vote-se. Mas isso só não chega.


2. Que fica de nós depois de votar? Onde podemos participar e fazer ouvir a nossa voz?
Não sei e era esta a pergunta que gostava de ver respondida. Mais do que respondida, satisfeita.
As instituições intermédias, a chamada "sociedade civil" ouve-se e faz-se sentir cada vez menos. Muitas vezes, ou é criada, ou serve interesses políticos, numa plataforma quase assumida de alargamento de bases. Não é disso que precisamos.


3. Que é feito das instituições locais? Que é feito de fóruns locais catalisadores de acções individuais? Onde está o espaço para os cidadãos se manifestarem, se fazerem ouvir enquanto tal?
A era da globalização poderia ter tornado isto tudo possível. Poderia ter aproximado, tornado eficaz uma sintonia de vozes com mais meios para se fazer ouvir.
Em vez disso, o sistema económico explora cada vez mais a noção exclusiva do "eu" que há em cada um, como
plataforma única de satisfação das necessidades.
Este "eu", sempre espicaçado, com necessidades pessoais cada vez maiores, só se satisfaz através do consumo, da construção de uma personalidade cada vez mais moldada em sinais exteriores.


4. Que é feito dos fóruns de participação? Onde os temos nós? Como os construir? Como acreditar que a soma de várias acções individuais pode realmente fazer a diferença? Que se só nos manifestarmos em urna nada disto faz sentido?
Onde está esta tão falada sociedade civil?
O problema é que não sei. Tenho pistas, ideias fortes acerca da sua construção. Será possível? Estamos numa fase tal que só me é possível acreditar.

3 comentários:

André disse...

Eu cá acho que é importante a reflexão sobre o que está no meio. mas, mais importante ainda, é a acção que ultrapassa a retórica. e essa implica um grau de envolvimento que, na maior parte dos casos, as pessoas preferem não ter. mobilizam-se por coisas pontuais, mas recusam as corridas de fundo, muitas vezes em nome de ideais mais "puros" que, no fundo, não são mais do que a expressão de um certo individualismo.
enfim...
bjs

* Mindfully Wondering disse...

Epa, este blog ta cada vez mais informativo. So'tora :P
E o comment do So'tor so enriquece o texo ;) :P

Eu disse...

eu cá adorei tudo... em especial o ponto 3, acho que está no ponto central da coisa: "andamos" demasiado ocupados a ouvir o nosso umbigo ou a tirar de lá carrapetas...

PS: Acho que tens razão ao dizer que faltam soluções mais higiénicas mas mesmo assim e olhando para os níveis de abstenção continuo a achar que temos o que merecemos: pessoas que cagam no(a)s político(a)s têm politico(a)s que cagam nas pessoas. E desculpa o mau cheiro da conversa...

baci