domingo, janeiro 08, 2006

Trieste


Trieste e as margens divididas do império.
Trieste é uma cidade distante. Trieste é sempre distante, mesmo agora que está tão perto.

Quando lá for (e no meio ponho o “se”) Trieste será certamente uma desilusão. Mal vem nos guias, de raspão nos mapas. O império já não está dividido, Trieste voltou costas aos austríacos e aos eslavos e é definitivamente italiana.

Ainda rivaliza com Veneza? Pouco se sabe dela, provavelmente não.
De Veneza, sabe-se que sucumbiu. A cidade das mais encantadoras, cheia de artifício, de postiço – de triunfo? Veneza faz-se do que não é dela, de quem não lhe pertence. (De mim, também, que incessantemente a busco sem encontrar.)

E Trieste, de que coisa se fará? Existirá ainda, nas suas ruas, a tripla divisão entre italianos, austríacos e eslavos? Falarão ainda os seus meandros da Voce, criada em Firenze para dar voz aos triestinos que em Trieste a não podiam ter? Será ainda a cidade dividida, a cidade da máxima liberdade? (Joyce e a confluência de intelectuais entre as guerras; Trieste como cidade por todos reivindicada e depois zona de vazio – de liberdade. O porto de Trieste. Olhar a Europa dos três impérios.)

Provavelmente, Trieste já nada dirá agora. Mesmo assim, será bom olhar a Eslovénia e Ljubljana nos olhos. (Onde a Kraína; Jugoslávia onde estás – as feridas seguem dentro de momentos.)

Agora estou em Itália. Já estive em Ljubljana. A Áustria é uma certeza, prestes a materializar-se. Trieste, Trieste.
Provavelmente a mais insignificante das cidades e é a que me baila no pensamento. E sonho com o seu porto de mar.

Post à boleia de Ilse Pollack, e do seu "Mundos de Fronteira".
Leitura obrigatória para quem quer perceber minimamente o que se passa à sua volta. Lindíssimo.

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