É ficar com poemas destes a bailar na cabeça. (E perceber que há homens que, quando toca ao génio, pouco têm de humanos. E ainda bem.)
PASTELARIA
Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura
Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio
Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante
Afinal o que importa é não ter medo: fechar os
olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício
(...)
Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir
de tudo
No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra
Mário Cesariny,
in Nobilíssima Visão
(Versão integral aqui)
terça-feira, maio 10, 2005
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